Dia da Conscientização do Transtorno do Espectro Autista

Animaletras
4 min readApr 2, 2022

Desde 2007, foi definido pela ONU o dia 02 de abril como “O Dia Mundial da Conscientização Sobre o Autismo”. TEA (Transtorno do Espectro Autista) é “um termo amplo que descreve um grupo de condições do neurodesenvolvimento”, segundo publicação da Isto é e “(…) em 2016, um estudo feito nos Estados Unidos com crianças de 8 anos descobriu uma proporção de 4,3 meninos com TEA para uma menina com TEA. Na mesma pesquisa, uma em cada 54 crianças era autista.” No dia de hoje, falaremos um pouco sobre como a representatividade na mídia pode ajudar tanto crianças autistas a se sentirem confortados, quanto crianças neurotípicas (que não possuem quaisquer transtornos de desenvolvimento neurológico) a conviver melhor com os colegas neurodivergentes (possuem transtornos de desenvolvimento neurológico).

Num artigo chamado “Como Steven Universe me ensinou a abraçar minha identidade neurodivergente”, Joseph Stanichar relata sua própria experiência de crescer com a série, que estreou alguns meses antes do seu aniversário de quatorze e terminou quando ele já chegava aos 20. Josh diz: “Eu estava vivendo um dos anos mais difíceis da minha vida, pois me sentia cada vez mais isolado de meus colegas e mantinha expectativas irreais de sucesso acadêmico (…) como alguém em processo de aceitar tanto o diagnóstico de autismo como o de TDAH, eu me sentia inferior às pessoas neurotípicas quase todos os dias. Eu pensei que Steven Universe , um programa sobre um garoto que luta contra monstros ao lado de suas três mães alienígenas do rock chamadas Crystal Gems, poderia ser uma fuga para mim. Em vez disso, esse desenho bobo sobre rochas espaciais acabou oferecendo algo mais. Direta ou indiretamente, Steven Universe me ensinou várias vezes sobre a importância da empatia, paciência e compreensão para com os outros, mas especialmente para nós mesmos.”

Jayar Brenner, um pesquisador autista da Universidade do Estado de Michigan, também escreveu sobre a importância de Steven Universe para pessoas do espectro. Ele afirma que mesmo que Pearl não tenha sido escrita para ser uma pessoa com autismo, a personagem ainda é um retrato positivo do que significa ser alguém autista. “Quando você faz parte de uma comunidade que não é muito representada, é comum procurar personagens com os quais você possa se relacionar fora de uma lente diretamente rotulada. No meu caso, esses personagens nunca são rotulados como autistas, mas seus maneirismos e experiências de vida ainda são marcantes.”, ele explica que resolve usar o termo autistic-coded, do mesmo jeito que a comunidade LGBTQIA+ usa queercoded, para explicar personagens que não são explicitamente autistas, mas cujos maneirismos remetem a essa experiência. Ele liga Pearl a várias experiências que também passa como autista: seletividade alimentar, interpretação literal, intensidade emocional, masking (uma resposta ao ridículação social que significa alterar completamente quem você é e como se comporta, para segurança e conforto social) e necessidade de planejamento e rotina.

Entrapta de She-ra por sua vez, não é uma personagem autistic coded, ela é realmente autista, confirmada pelos criadores ao serem questionados sobre a possibilidade da personagem estar no espectro. “Sim, nós a escrevemos assim. Um de nossos membros da tripulação estava no espectro e se relacionava especificamente com ela, e teve um papel importante na formação de sua história e personagem!”, afirmou Noelle Steverson, um dos criadores do show, dando os créditos ao artista de storyboard, Sam Szymanski, que também é do espectro, pela criação dos maneirismos e grande parte do arco dessa personagem.

No Artigo Por que o Entrapta de She-Ra significa tanto para a representação autista, Caitlin Chappel, explica porque acredita ser tão importante uma “representação positiva de uma mulher autista que tem orgulho de ser ela mesma”: “Entrapta está ciente de que ela não entende os sinais sociais tão bem quanto seus amigos, e ela tenta o seu melhor para compensar isso através de sua inteligência, paixão e outros pontos fortes. Quando suas amigas princesas veem que Entrapta se importa e mostra isso à sua maneira e única, elas percebem que poderiam trabalhar melhor para entender de onde ela vem. Após esse momento, Entrapta se torna um dos rebeldes mais cruciais e bem-sucedidos. Durante todo o show, Entrapta permaneceu fiel a quem ela é, salva o dia e lembra a todos que só porque um não funciona como esperado, isso não significa que eles estão quebrados; eles são excepcionalmente belos. Ver um personagem autista como Entrapta ser um herói é valido para muitos fãs do espectro e fornece aos espectadores de todas as idades um modelo que garante que suas diferenças os tornam maravilhosos.”

Por fim, personagens no espectro também ajudam a integração entre crianças neurotípicas e neurodivergentes, numa pesquisa conduzida por Carla Simone Engel e Elizabeth Sheppard da Escola de Psicologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, em 2019, as pesquisadoras concluíram que ver crianças austistas em animações e aprender mais sobre o espectro, ajuda crianças neurotípicas a entender e interagir melhor com elas.

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Written by Animaletras

Um grupo de pesquisa sobre animação feito por alunos de Letras da UERJ e colaboradores

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