Representatividade Trans em Animações
Double-Trouble é uma personagem da série She-Ra, adaptação da série dos anos 80 produzida pela Dreamworks — pois é, mais uma vez essa série aparecendo por aqui, hehe. A personagem é uma das vilãs da animação, que possui a habilidade de se “metamorfosear” em outras personagens. E o mais legal disso tudo? É uma personagem não-binária. Sim! Já é difícil ter representação trans nos desenhos animados, e não-binária é ainda mais difícil.
Obs.: Neste texto, vamos utilizar a palavra “personagem” no feminino, porque este é um substantivo de dois gêneros. Antigamente, a palavra era feminina (assim como outros substantivos terminados em -gem), porém, por se tratar de pessoas, não demorou muito para que o masculino generalizante começasse a ser utilizado, a ponto de hoje em dia ser principalmente associada ao artigo masculino. Mais um traço de que questões sociais transparecem na língua.
Antes de mais nada, pra quem não sabe, não-binário é uma classificação que faz parte do “T” da sigla LGBTQIA+ (ou seja, pessoas Transgênero/Travestis/Transexuais) que designa pessoas que não se identificam apenas com o gênero masculino ou feminino, podendo se identificar com os dois, de diferentes formas, ou com nenhum dos dois. Como Double-Trouble não necessariamente faz declarações sobre seu gênero na série (até porque não faria sentido para o universo da série), não dá pra dizer se elu é gênero neutro ou gênero fluido, por exemplo (que são categorias de pessoas não-binárias), mas sabemos que é uma personagem que transita entre o que entendemos por masculino e feminino. Double-Trouble tem a dublagem no original em inglês por Jacob Tobia, que é também uma pessoa não-binária. Na série, Double-Trouble é tratade pelo pronome neutro no inglês (they/them) e no português a dublagem opta por não utilizar marcações de gênero (chamando a personagem pelo nome ao invés de usar artigos ou pronomes que demarcam gênero, por exemplo).
Reiteramos as palavras de Tobia, que disse em uma entrevista:
Ter representação não-binária em animações para jovens é importante, pois os jovens de hoje já entendem que o gênero é diverso e tem um amplo espectro desde jovem. Já estava na hora de os programas que estamos fazendo para os jovens refletirem o mundo como eles o entendem. (tradução do site Tecmundo)
Na versão antiga de She-ra, também há essa personagem, com os mesmo poderes, sendo, no entanto, do gênero feminino e aparecendo apenas nas HQs, e não na série de televisão.
Vale destacar que Noelle Stevenson, criadore da animação, também é uma pessoa não-binária, o que diz muito sobre a maneira como a série retrata questões que dizem respeito a gênero e sexualidade. De maneira muito sensível e inteligente, a animação possui a delicadeza necessária para que outras pessoas da comunidade se sintam representadas.